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Um passo em frente nesta longa escadaria rumo a um sentimento de concretização pessoal. Sou, na minha essência, a mesma... mas visto-me mais de acordo com uma filosofia que é minha, que tomo como minha. Aquela que me autoriza a errar, a arriscar, a ser uma mente aberta, a pagar preços altos pelo que, para mim, faz todo o sentido... momentos de felicidade!

Meu Mundo

"Não sou para todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestades. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso... São necessárias!" ***Caio F. Abreu

25 de setembro de 2017

“Pro dia nascer feliz”: fome de alegria – Rubem Alves

Freud disse que são duas as fomes que moram no corpo. A primeira é a fome de conhecer o mundo em que vivemos. Queremos conhecer o mundo para sobreviver. Se não tivéssemos conhecimento do mundo à nossa volta saltaríamos pelas janelas dos edifícios, ignorando a força da gravidade, e colocaríamos a mão no fogo, por não saber que o fogo queima.
A segunda é a fome do prazer. Tudo que vive busca o prazer. O melhor exemplo dessa fome é o desejo do prazer sexual. Temos fome de sexo porque é gostoso. Se não fosse gostoso, ninguém o procuraria e, como consequência, a raça humana acabaria. O desejo do prazer seduz.
Gostaria de poder ter tido uma conversinha com ele sobre fomes, porque acredito que há uma terceira: a fome da alegria.
Antigamente, eu pensava que prazer e alegria eram a mesma coisa. Não são. É possível ter um prazer triste. A amante de Tomás, de A Insustentável Leveza do Ser, se lamentava: “Não quero prazer, quero alegria!”.
As diferenças. Para haver prazer, preciso primeiro que haja um objeto que de prazer: uma caqui, uma taça de vinho, uma pessoa a quem beijar. Mas a fome do prazer logo se satisfaz. Quantos caquis conseguimos comer? Quantas taças de vinho conseguimos beber? Quantos beijos conseguimos suportar? Chega um momento em que se diz: “Não quero mais. Não tenho mais fome de prazer…”.
A fome de alegria é diferente. Primeiro, ela não precisa de um objeto. Por vezes, basta uma memória. Fico alegre só de pensar num momento de felicidade que já passou. E, em segundo lugar, a fome de alegria jamais diz “Chega de alegria”. Não quero mais…”. A fome de alegria é insaciável.
Bernardo Soares disse que não vemos o que vemos; vemos o que somos. Se estamos alegres, nossa alegria se projeta sobre o mundo e ele fica alegre, brincalhão. Acho que Alberto Caeiro estava alegre ao escrever este poema: “As bolas de sabão que esta criança se entretém a largar de uma palhinha são translucidamente uma filosofia toda. Claras, inúteis, passageiras, amigas de olhos, são aquilo que são… Algumas mal se veem no ar lúcido. São como a brisa que passa… E que só sabemos que passa porque qualquer coisa se aligeira em nós…”.
A alegria não é um estado constante – bolas de sabão. Ela acontece subitamente. Guimarães Rosa disse que a alegria só em raros momentos de distração. Não se sabe o que fazer para produzi-la. Mas basta que ela brilhe de vez em quando para que o mundo fique leve e luminoso. Quando se tem alegria, a gente diz:
“Por esse momento de alegria, valeu a pena o universo ter sido criado”.

Título original: Alegria e Tristeza – do livro Pimentas – para provocar um incêndio, não é preciso fogo, Editora Planeta, 2ª Edição, 2015, páginas 29 e 30.

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